segunda-feira, 24 de junho de 2013

Pataxó: Do nordeste para Minas.



Em uma das festividades habituais dos Pataxó de Carmésia/MG, tive a oportunidade de conhecê-los em uma visita técnica da faculdade. Minha inquietude e alegria de estar participando juntamente com os indígenas (minha paixão desde a mais tenra idade) de um dos mais importantes rituais, me fez querer saber mais sobre tudo aquilo e principalmente quem eram eles. Através de várias conversas informais com indígenas de diversas faixas etárias muitas outras questões foram surgindo.

Este é Aruiá (que em Pataxó quer dizer papagaio). Me encantei desde o começo, seus longos cabelos e seu olhar é lindo, não dá pra mostrar na foto a infinita beleza que este garoto de 13 anos contém. Ele me disse que pretende cursar alguma graduação que possa ajudar o povo dele.

Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome  o Monte Pascoal e à terra  a Terra da Vera Cruz. (Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal)


Tendo sido o Monte Pascoal o primeiro avistamento de terras brasileiras, este se tornou um importante ponto turístico para a nação. Acredita-se que ali os portugueses desembarcaram inicialmente e tiveram o primeiro contato com os habitantes que aqui viviam, do outro lado do oceano Atlântico. Na época, a área era ocupada apenas pelos Tupinambás, que com o tempo foram desparecendo daquela área, não cabe aqui dissertar os motivos da dispersão dessa etnia. Nesse local foi criado em 1961 o Parque Nacional do Monte Pascoal, com 22.383 hectares de extensão, desses hectares apenas 8.600 hectares são destinados a reservas indígenas da etnia Pataxó, que desde 1861, “quando o governo da Província da Bahia reuniu comunidades indígenas dispersas na região de Porto Seguro em um único aldeamento”. Atualmente o parque é aberto à visitação com cobrança de entrada para os turistas e visitantes, recebendo todo o aparato e infraestrutura que um parque possui como hotel, restaurante e um centro de visitação com a história do Monte Pascoal.
Desde a criação do parque, os Pataxó que viviam naquela terra não puderam mais circular por ela, caçar ou pescar e continuar vivendo ali, já que foi transformada em unidade de conservação e criação do parque. Através de lutas e resistências travadas pelos indígenas, moradores da região, mais tarde alguns hectares foram disponibilizados para reserva indígena, os 8.600 hectares já citados acima. O dia 19 de agosto é um marco importante para os que conseguiram retornar a sua terra lar, a região onde situa o Monte Pascoal.

...conscientes de que o Parque Nacional está dentro dos limites de nossa terra, conforme a história de nossos anciãos, decidimos imediatamente RETOMAR o nosso território, neste dia 19 de agosto de 1999, protegidos pela memória dos antepassados, protegidos pelo direito constitucional [...] pretendemos transformar o que as autoridades chamam de Parque Nacional do Monte Pascoal em Parque Indígena, terra dos Pataxó, para preservá-lo e recuperá-lo da situação que hoje o governo deixou a nossa terra, depois de anos na mão do IBDF, atual Ibama, que nada fez a não ser reprimir os índios e desrespeitar nossos direitos. Queremos deixar claro para a sociedade brasileira, para os ambientalistas, para as demais autoridades que não somos destruidores da floresta, como tem sido proclamado [...] Vamos celebrar os 500 anos em nossa terra, receberemos os nossos parentes de todo o Brasil aqui, no Monte Pascoal, único local possível para construirmos o futuro com dignidade. [...] Mais uma vez pedimos o apoio de toda a sociedade brasileira.” (Carta do Povo Pataxó, 1999)




Segundo Lima (2011), “a chegada  dos Pataxó em Minas é consequência de dois fatos históricos importantes: o primeiro o famoso 'Fogo de 51', caracterizado pela ação violenta da polícia baiana que desarticulou  sua aldeia, dispersando o Povo Pataxó na região de Porto Seguro; e o segundo a transformação de 22.500 hectares de seu território em parque nacional - o Parque Nacional do Monte Pascoal, criado em 1943 e oficialmente demarcado no ano de 1961 - reduzindo nessa extensão o seu território tradicional.”
Pelo espaço limitado reservado para os indígenas, nem todas as aldeias puderam retornar à sua antiga morada. Diante disto, algumas continuaram dispersas em outras reservas indígenas estabelecidas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), são cerca de 10 povos indígenas que atualmente habitam Minas Gerais, no total, são 14,5 mil Pataxó em terras mineiras. São reservas como a constituída na Fazenda Guarani em Carmésia, Minas Gerais e agora, a Aldeia Geru Tucunã, no Parque Estadual do Rio Corrente, que luta pela demarcação da terra. 
    Os índios de Carmésia, atualmente, estão divididos em três aldeias: Imbiruçu, Retirinho e Sede. Cada aldeia tem sua escola, tendo uma quadra poliesportiva para uso comum. Apesar de ser, um mesmo povo, uma mesma etnia, cada grupo tem características bem específicas. Na aldeia Sede há uma grande ecleticidade e por vezes a cultura tradicional é mais praticada nos momentos específicos de festejos. Já a Imbiruçu é um meio termo, tentam cultivar as tradições, porém podemos perceber que não há muita resistência aos caprichos da sociedade moderna, há casamentos com não indígenas, por exemplo. Retirinho é aldeia mais tradicional, formada por uma única família, são bem conservadores. Não se misturam e praticam com determinação a cultura e arte pataxó.
Contudo, não haviam apenas estas três aldeias na reserva. Com o espaço territorial pequeno e já bastante explorado, a população da aldeia Alto das Posses, que hoje se tornaram a Aldeia Geru Tucunã, desde julho de 2010, estão estabelecidos no Parque Estadual do Rio Corrente, que fica entre os municípios de Açucena e Periquito, Minas Gerais. “Os grupos familiares constantemente têm reivindicado aumento do território à Funai e ao governo do Estado, o que tem sido negado. Portanto, a movimentação desse grupo, com certeza tem esse objetivo – buscar novo espaço para manutenção de sua sobrevivência física e cultural.” (CIMI, 2010)

Liderados pelo Cacique Bayara, cerca de 60 indígenas na época ocuparam a área. A situação atual de acordo com as notícias veiculadas no site da CEDEFES e nos jornais locais é que a terra ainda não foi demarcada e a comunidade exige melhorias na educação e saúde. A situação piora no que diz respeito aos embates com os posseiros com quem fazem divisa territorial, pois há violação de direitos humanos. As crianças que precisam estudar na escola da cidade sofrem constantemente com o bullying[1], falta de políticas públicas de saúde eficazes, entre outros.










[1] “(...) as crianças são discriminadas na Escola Cristiano Machado, no distrito de Felicina, por alunos e professoras. (...) a diretora da escola onde as crianças e jovens índios estudam (doze, ao todo) teria afirmado que "a escola virou um inferno" depois que os índios se instalaram na região.” (ALMG, 2013)













Referências:


LIMA, Ana Paula Ferreira de. As comunidades indígenas em Minas Gerais. 2011. Disponível em: <http://www.anai.org.br/povos_mg.asp#QUADRO> Acesso em: 27/05/2013
Povo Pataxó quer o Monte Pascoal de volta. Disponível em: <http://www.socioambiental.org/website/parabolicas/edicoes/edicao53/reportag/p03.htm> Acesso em: 15/09/2012
Povo Pataxó comemora 11 anos de retomada do Monte Pascoal. Disponível em: < http://www.torturanuncamais-sp.org/site/index.php/noticias/314-povo-pataxo-comemora-11-anos-de-retomada-do-monte-pascoal> Acesso em: 15/09/2012
Povo Pataxó de Carmésia. Disponível em:<http://www.cedefes.org.br/index.php?p=indigenas_detalhe&id_afro=5275> Acesso em: 15/09/2012
 O primeiro ponto de terra avistado pelos português. Disponível em: < http://ecoviagem.uol.com.br/brasil/bahia/parque-nacional/monte-pascoal/> Acesso em: 24/10/2012
Índios Pataxó ocupam fazenda em Açucena. Disponível em: < http://www.cedefes.org.br/index.php?p=indigenas_detalhe&id_afro=2797> Acesso em: 27/05/2013
Aldeia Geru Tucunã. Disponível em: < http://www.cedefes.org.br/index.php?p=indigenas_detalhe&id_afro=6863> Acesso: 27/05/2013
Comissão busca solução para conflito em Açucena. Disponível em: < http://www.cedefes.org.br/index.php?p=indigenas_detalhe&id_afro=10007> Acesso: 27/05/2013

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