Infelizmente,
muitos desconhecem a História dos Povos Indígenas, aliás, há os que pensam que
eles estão presos no passado e que foram praticamente extintos. Tenho mostrado
em vários posts que os Povos Indígenas ainda vivem, ainda possuem voz e ainda
lutam por seus direitos. Infelizmente, alguns foram massacrados a tal ponto a
serem realmente extintos. É o caso dos povos indígenas da região do Vale do Rio
Doce, que se encontra ao leste de Minas Gerais. Conhecidos pejorativamente por “Botocudos”,
esses indígenas possuíam denominações diversas e se reuniam em diferentes clãs
que tinham uma mobilidade espacial incrível!
“Até o final do século
XVIII, os “Botocudos” ficaram à vontade na mata do Rio Doce. Durante uns cento
e tantos anos ficaram ali e a Coroa não tinha nada a ver com aquilo. Depois os
brancos decidiram descer o cacete. Antes somente se interessavam pela madeira
existente na mata.”
Até o início do século XX, muitos indígenas, principalmente na região que hoje se denomina “Vale do Aço”, ainda resistiam aos contatos com os não indígenas. Mas aos poucos, esses grupos foram desaparecendo. Felizmente, um dos grupos indígenas que eram tidos como “Botocudos” ainda resistem, os Krenak, residem na divisa entre o Espírito Santo e Minas. Possuem uma reserva e lá vivem e podem continuar vivendo sua cultura.
“Darcy Ribeiro apresentou esses índios
[os Krenak] como extintos. Uma vez,
quando ele era secretário de Cultura, do governo Brizola, fui visitá-lo com um
grupo de guaranis no Rio de Janeiro. (...) entramos no gabinete do Darcy para
cumprimentá-lo e ele perguntou como é que estávamos. Respondi: “Como você disse
que nosso povo está extinto, um fantasma veio lhe visitar. Porque, pelo seu
livro, estamos mortos. Quem está extinto não dá notícia”.
Os
dois maiores troncos linguísticos dos indígenas brasileiros, atualmente, são: o
macro tupi e o macro jê. Os “Botocudos” da região do leste mineiro encontram-se
no tronco macro jê. Além da diferença da língua, os costumes também se
diferenciam. Os tupi, por exemplo, eram mais amigáveis e abertos à novidade do
que os jê, que eram muito resistentes aos novos contatos, principalmente com os
europeus.
Em
decorrência a esse fator, muitos indígenas desse tronco foram massacrados, foi
o que aconteceu na região do Vale do Rio Doce. Quando em meados do século XIX
começam a explorar o interior mineiro, há muitos embates entre indígenas e não
indígenas. Fora as doenças trazidas, a violência contra os nativos eram
agravantes, o “progresso” estabelecido pela coroa portuguesa não era se não o
extermínio dos indígenas. Principalmente, dos “Botocudos” que eram, nas
palavras dos colonizadores, bravos e arredios. Pois bem...por serem bravos e
arredios, não sobravam-lhe outra alternativa: ou eles se entregavam para os colonizadores
e então, serem aldeados para catequização e “desbrutalização” ou que usasse as
formas mais violentas para poder “abrir caminhos ao progresso”.
“Durante trezentos
anos, a região leste do Estado de Minas Gerais não podia ser devassada. A Coroa
portuguesa impedia a passagem direta da região das minas até o litoral, para
evitar o contrabando de ouro e diamantes. Criou-se, assim, o chamado “sertão do
leste”. Com o esgotamento das minas, no fim do século XVIII, tornou-se
indispensável derrubar e explorar a Mata Atlântica e exterminar os chamados
índios “botocudos”, que enfrentavam os colonizadores. Houve, portanto, o genocídio
dos índios. Atualmente, as comunidades indígenas estão renascendo e se
fortalecendo, exigem respeito pela sua identidade étnica e o atendimento de
suas necessidades.”
- Nômades
- Não usavam vestimentas ou grafismos, apenas “botoques”, que são círculos de madeira que colocam nas orelhas e lábios inferiores (chegavam a 12cm de diâmetro). Com o contato com os brancos, os homens passaram a usar uma espécie de tanga, e as mulheres continuavam completamente nuas.
- Casas muito simples, de folha de palmeira
- Poligâmicos e paternalistas
- Dormiam no chão
- Caçadores e coletores
- Seus arcos e flechas eram muito bem confeccionados, haviam 3 tipos de pontas de flechas, cada uma para um uso. Ornamentavam seus utensílios com goimbé (Guaimbê, uma espécie de planta/folhagem) e pintava-os com urucum.
- Lógica do “meu”: ao contrário de várias etnias em que tudo é de todos, os botocudos apegavam-se a seus objetos e não se desfaziam dele para outrem.
- O nome “Botocudo” foi dado a todos aqueles que utilizavam os botoques, entretanto, esses povos tinham suas denominações específicas, como Borun, Naknanuk, Pojixá, Nakre-ehé, Miñajirum, Jiporók, Gutkrák, entre outros.
- Atualmente, o grupo remanescente dos Botocudos são os Krenak.
- Pocrane foi um grande líder indígena que manteve contato com Guido Marliére, na época do exploração do Leste Mineiro. Alguns afirmam, que juntos tentaram diminuir toda a violência cometida aos indígenas, outros dizem que Marliére era um completo colonizador, sem se importar com os nativos.
- Fontes para aprofundamento:
- biblioteca digital Curt
Nimuendaju: http://biblio.etnolinguistica.org/
Os Fragmentos são da Entrevista de Ailton
Krenak: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142009000100014&script=sci_arttext
[1] Gostaria de deixar claro que as
características dos “Botocudos” ou dos povos Jê, quase em sua totalidade, não
significa levar o pensamento para o entendimento de que eles eram selvagens ou
rudimentares e sim que desenvolveram sua cultura de forma diferente dos demais.
Já discutimos sobre isso no post: http://promessasdosol.blogspot.com.br/2013/06/sobre-o-etnocentrismo.html